São Paulo – “Mesmo com todas as dificuldades, as trabalhadoras domésticas têm garra e resistência para pautar o que está acontecendo e fazer denúncias”. É o que destaca a presidenta da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), Luiza Batista, em entrevista à Rádio Brasil Atual. Apesar da pandemia de covid-19, a entidade conseguiu contornar as restrições para realizar a 12ª edição do Congresso da Fenatrad. O evento, que ocorre entre os dias 12 e 15 de agosto, será pela primeira vez feito de forma virtual e abordará a luta e a resistência das trabalhadoras domésticas durante esse período de crise sanitária.
Segundo setor mais prejudicado pela crise sanitária, com 1,5 milhão de postos de trabalho fechados em 2020, de acordo com pesquisa Pnad Contínua do IBGE, a classe de trabalhadores domésticos também vêm enfrentando o período sem qualquer política pública direcionada à categoria por parte do governo de Jair Bolsonaro. As condições precárias trabalhistas, que já eram submetidas à maioria de mulheres que forma o setor, ainda aumentaram durante a pandemia.
Com a ampliação dos obstáculos, o congresso quer aproximar ainda mais as trabalhadoras do trabalho do dia a dia da federação e dos sindicatos. “No começo foi uma dificuldade muito grande, porque as trabalhadoras estavam sentindo necessidade tanto na alimentação como na habitação, o local que moram. Porque muitas moram de aluguel e não tinham como pagar, principalmente as diaristas, que só recebem se trabalhar”, aponta a presidenta do Sindicato dos Trabalhadores e Empregados Domésticos de nova Iguaçu, Cleide Silva Pereira Pinto, também diretora da Fenatrad.
Organização da classe
Outro problema encontrado, segundo as dirigentes, foi também as condições análogas à escravidão a que muitas trabalhadoras foram expostas. Em pauta desde 1930, com a trabalhadora, ativista e sindicalista Laudelina de Campos Melo, a luta por direitos ganhará novamente destaque no congresso.
Somente em 2020, ao menos 942 pessoas foram resgatadas de condições análogas à escravidão por uma força-tarefa do poder Judiciário, sendo a classe das trabalhadoras domésticas uma das mais afetadas.
De acordo com Cleide, a luta é para impedir novos casos. “Estamos muito fortes nesse sentido de não deixar isso crescer. Não podemos deixar isso retroceder e nós, trabalhadoras domésticas ou qualquer trabalhador, ser escravizado novamente”, destaca à repórter Júlia Pereira.
A presidenta da Fenatrad avalia que “por ser um trabalho herança do Brasil colônia, Brasil escravocrata, infelizmente (a categoria) é desvalorizada”. Segundo Luiza, por isso também a importância da organização trabalhista. “Esse é o 12º congresso nacional da categoria, e nele a gente discute o que pautamos e reivindicamos no dia a dia e elegemos a direção para os próximos quatro anos. E é o Congresso também que norteia a luta para os próximos quatro anos”, reforça.
Da Reportagem Jornal do Trabalhador com informações Rede Brasil Atual