São Paulo – O livro É tudo novo, de novo, publicado pela Editora Boitempo, aponta como as relações de trabalho são constantemente alvo de debates sobre a necessidade de adaptações e mudanças, mas sempre sob a ótica do capital. A obra do professor de Economia Vitor Araújo Filgueiras, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), busca rebater a narrativa das “grandes transformações da sociedade” que tem como objetivo, segundo ele, de legitimar a destruição de direitos trabalhistas e o aprofundar a assimetria entre capital e trabalho.
Na publicação, ele rebate os argumentos empresariais em torno da inovação, com os quais a elite econômico-financeira defende que o padrão de políticas relacionadas ao trabalho seria anacrônico e, para evitar um desastre no mercado de trabalho, seria preciso “flexibilizar” e “modernizar” a legislação. Em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual, Filgueiras explica que essas narrativas são tão poderosas que acabam sendo assimiladas por parcela importante de trabalhadores e instituições.
“O eixo central desse debate é que existe um falso problema sobre a relação entre custo do trabalho, direito do Trabalho e desemprego. Essa ideia é antiga e vive sendo requentada, onde é dito que se você reivindica direitos, está dando um tiro no próprio pé. A reforma trabalhista é um exemplo. O objeto geral do livro é alertar que o debate não pode ser feito a partir de pressupostos que o adversário condiciona, pois as alternativas e propostas são restringidas. “, pontua.
Retórica capitalista
Em uma linguagem acessível, o livro É tudo novo, de novo enfatiza a importância de os trabalhadores não assumirem como verdadeira a retórica capitalista dominante. A ascensão dos aplicativos é um exemplo, segundo Filgueiras. Ele explica que, sob a ilusão de que os “trabalhadores são os próprios patrões”, muitos aceitam condições precárias de trabalho.
“Essas estratégias demandam e utilizam mecanismos retóricos para que aquilo seja interessante. Você tem um processo coercitivo do mercado de trabalho, com menos oportunidades, então as pessoas aceitam condições piores. Portanto, essas ferramentas retóricas promovem uma ilusão. Essa ideia da flexibilidade, liberdade e autonomia são pautas da classe trabalhadora, a questão é que usam um problema concreto na relação do trabalho para recrudescer o processo de dominação e aumentar a exploração dos trabalhadores”, critica.
Diante da modernização, o economista aponta que os trabalhadores não podem aceitar o argumento de que estão competindo com máquinas. Na prática, essas ferramentas precisam se adaptar às pessoas, não o contrário.
“Tecnologia não é viva, não tem vontade, ela é utilizada pelas pessoas. Isso é um golpe empresarial. As plataformas e aplicativos têm donos e exploram os outros. Os trabalhadores não competem com as tecnologias, mas com as empresas. A tecnologia vai substituir as pessoas? Se isso acontecer, é decisão dos donos do dinheiro”, explica.
Da Reportagem Jornal do Trabalhador
Fonte: Rede Brasil Atual